Desafio

Situada no concelho de Avis a Herdade Camões, do Grupo José Pedro Barreira, tem aproximadamente 4.000 hectares, dos quais 8% dedicados à produção agrícola, 58% cobertos por floresta, prados e pastagens e 22% de montado. É um território rico em biodiversidade, quer pela sua escala como pela diversidade do mosaico de paisagem. Nesta Herdade no Alto Alentejo as principais atividades socioeconómicas são a cortiça, a pinha, o eucalipto, o gado bovino, o olival e, mais recentemente, o amendoal. Com o intuito de preservar o património natural deste Grupo de génese familiar, e sem nunca descurar a viabilidade económica do negócio, a equipa da NBI desenvolveu um plano de gestão de biodiversidade e ecossistemas e fez uma análise de risco climático e biofísico da Herdade Camões.

Projeto

Para conhecermos a Herdade, os seus ecossistemas e avaliarmos a saúde dos mesmos começámos por recolher bioindicadores agrícolas e agroflorestais. Como a Herdade é vasta o trabalho de campo foi muito interessante e repleto de descobertas, como charcos temporários ou espécies notáveis da flora - espécies raras, protegidas ou ameaçadas, como o embude-folha-de-pimpenela (rara), o lírio fétido (o primeiro encontrado na região), o miosótis-lusitano, ou a wolfia - a planta mais pequena do mundo. Adicionalmente, foram também identificadas espécies de fauna com relevância para a classificação da herdade como área de alto valor natural e ecológico, destacando-se algumas curiosidades como a lontra, as a grande diversidade de abelhas e vespas silvestres ou o jovem sapo corredor (o que encontrámos cabia na palma da mão de uma criança!), entre dezenas de outras espécies. 

Posteriormente, e para as duas principais áreas de cultivo – o olival e amendoal – foi proposto um plano de gestão de base natural que permite a manutenção da biodiversidade e a conservação do solo. As ações propostas incluíram o desenho de corredores de sebes e enrelvamentos adequados ao método de colheita por aspiração, a promoção de auxiliares, a conservação e restauro de linhas de água, valas e taludes, a reconversão, entre outros. 

Paralelamente, identificámos e mapeámos os 15 habitats naturais e semi-naturais e avaliámos o estado de conservação de cada uma das áreas no contexto do mosaico de paisagem. Depois desta primeira avaliação, irá ser desenvolvida uma análise de tendência de conservação de 3 a 5 anos, considerando dois cenários diferentes: um sem ações de restauro e conservação e outro com ações de restauro e conservação. Este modelo permite-nos identificar os habitats em que faz mais sentido intervir e aqueles em que a intervenção humana não vai trazer benefícios.

Áreas de expertise

  • Agroecologia

  • Biodiversidade

  • Gestão de ecossistemas

  • Adaptação às alterações climáticas

  • Bioeconomia

Resultados

Só podemos gerir o que conhecemos, por isso, um dos primeiros resultados a assinalar foi sem dúvida a identificação de mais de 250 espécies da flora, mais de 200 espécies de fauna e de habitats raros - como o das dunas interiores. Este habitat é protegido pela União Europeia e foi encontrado num local improvável - visto ser pouco comum nesta zona do país - e em excelente estado de conservação, com as espécies todas que nele devem existir. Esta é uma ótima notícia, porque não há melhor forma de atestar a qualidade ecológica de uma zona do que com habitats naturais bem conservados.

Ainda estamos numa fase preparatória de avaliação e descoberta das potencialidades da Herdade Camões, mas já detetamos vários recursos biológicos interessantes de explorar no âmbito da bioeconomia, quer seja para alimentação (como o tomilho-bela-luz), para fins medicinais, de bem-estar e outros. Além disso, sabemos que as práticas agroecológicas tornam os ecossistemas mais resilientes e, também por isso, estamos entusiasmados com o que o futuro irá trazer a este território.